O sonho e a realidade de Gabriel Crippa
Diz a lenda que o jogador Didi, campeão mundial de 58 e 62, é autor da frase “treino é treino, jogo é jogo”.
Correr atrás de uma bola com segurança, disputar jogadas com o adversário, saltar para uma cabeçada e cair sem se machucar, chutar a gol contando com uma perna de apoio forte: tudo isso exige de um jogador de futebol muito preparo físico e consciência corporal.
Ou seja: treinar é preciso.
Exercitar movimentos de rotação, com mudanças bruscas de direção, de equilíbrio e garantir estabilidade do tronco e da coluna fazem parte desse momento da vida de um jogador. É o antes.
Na hora do jogo, o resultado de todo esse esforço aparece. O corpo do atleta responde. Corresponde.
Nos tempos de Didi, não se imaginava que praticar Pilates poderia fazer toda a diferença no desempenho de um atleta em campo.
Crippa descobriu por acaso.
Entre o sonho e a realidade
O sonho vem de longe. E cresceu com o menino que não deixa por menos: quer ser um jogador do tamanho de Neymar. Ou de Cristiano Ronaldo. Por que não? O sonho é para ser sonhado do tamanho que se quer.
Desde os oito anos, Gabriel Crippa Marques – o Crippa – faz do campo de futebol o seu cenário de vida preferido. Deu seus primeiros passos, ou melhor, passes e chutes, no São Paulo F.C. Foi lá que se definiu como meio campista. E seguiu sonhando com gols, aplausos, reconhecimento do público.
Hoje, aos 18 anos, aguarda o resultado de um teste feito no Santos F.C. Enquanto espera o que lhe reserva o futuro, treina no Centro de Formação do Campo Limpo. E, duas vezes por semana, faz aulas de Pilates.
– Minha mãe sugeriu, eu resisti no início, por puro preconceito, mas depois de uma aula experimental, me rendi – diz o agora convicto e disciplinado praticante da atividade criada pelo alemão Joseph Pilates no início do século XX.
Mas por que Pilates?
– Melhora meu rendimento nos treinos de futebol. Ganho força e massa muscular, aperfeiçoo meu alongamento, saio da aula mais relaxado e com disposição para jogar.
Será que é uma prática comum entre os jogadores de futebol?
– No Brasil, só o Atlético Mineiro incorporou o Pilates no treinamento dos seus jogadores. Fora, faz parte da rotina do Bayern de Munique e do Barcelona.
Agora é hora de correr atrás do próximo sonho. Com a cidadania portuguesa garantida, a ideia é chegar num desses grandes clubes europeus com meio pilates andado.
Mas por que Pilates?
Ver um aluno de 18 anos, como Crippa, cumprir rigorosamente o horário das aulas de Pilates surpreende. E seguir as orientações do professor sem discutir demonstra disciplina. Mas perceber sua curiosidade, quando pergunta a função e o resultado esperado de cada movimento, mostra como a extensão dos benefícios e a função preventiva dessa modalidade de exercício ainda é pouco conhecida.
As pessoas, de maneira geral, ainda procuram os estúdios só depois de sofrer alguma lesão. Chegam com um exame de imagem e uma recomendação de profissionais de saúde: “o mais indicado, para recuperação, é a prática de uma atividade leve, como pilates”.
Durante as aulas, essas pessoas constatam que não é bem assim. E que o método criado por Joseph Pilates vai muito além da expectativa de simplesmente se colocar em movimento para superar problemas físicos. Dependendo do estágio do aluno, a atividade cumpre com louvor funções aeróbicas e anaeróbicas. E supre as necessidades do corpo todo. Como exige a prática do futebol, do vôlei e do basquete, por exemplo. Na verdade, contribui para o desempenho de qualquer atleta, de todas as modalidades esportivas. Até….do xadrez. Uns pelos deslocamentos e pela velocidade. Outros pela imobilidade e pelos vícios de postura.
Crippa constatou seus benefícios agora. E pode servir de exemplo para outros meninos que praticam esportes.
Descobriu que uma atividade de alta intensidade, como o futebol, envolve jogadas com grandes possibilidades de provocar lesões. Aí entra o caráter preventivo do Pilates, que trabalha o fortalecimento, a flexibilidade e o alongamento, aprimora a qualidade e a coordenação dos movimentos e desenvolve a consciência corporal. Resultado: a percepção do próprio corpo se traduz em mais concentração em cada gesto e contribui para reduzir os riscos de contusões.
Nascer com talento pode ser meio caminho andado. Mas ganhar flexibilidade, estabilidade e equilíbrio, trabalhar o realinhamento do corpo, melhorar a amplitude dos movimentos e a resistência dependem, além da disciplina, de um treinamento bem direcionado.
No futebol do futuro, a inclusão do Pilates na preparação física dos atletas poderá deixar de ser exclusividade de alguns para virar rotina em todos os clubes do Brasil. Esse nosso sonho tem tudo para virar realidade. Assim como o sonho de Crippa.
Na torcida, aplaudimos. E agradecemos.